A Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na última terça-feira (10), escancarou um esquema milionário de corrupção envolvendo desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. O epicentro das irregularidades está relacionado ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) na Bahia, com desvios que podem ultrapassar R$ 1,4 bilhão.
Segundo a PF, os contratos investigados somam R$ 825 milhões apenas em 2024, revelando a extensão do esquema que movimentava verbas públicas com a participação de agentes políticos e empresários influentes.
Entre os alvos estão figuras de destaque na política baiana, como o vereador eleito Francisquinho Nascimento (União), primo do deputado federal Elmar Nascimento e do prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento. Francisquinho foi preso em flagrante com R$ 220,1 mil em espécie, escondidos em uma sacola que ele tentou descartar pela janela durante a abordagem policial. Conhecido por sinais exteriores de riqueza incompatíveis com sua declaração de bens, o vereador também teria atuado como ponte para intermediar contratos fraudulentos em Campo Formoso. A PF identificou que ele recebia vantagens indevidas de empresas contratadas pelo município, incluindo dinheiro e até empréstimos de aeronaves particulares.
A investigação revelou que o esquema envolvia empresas ligadas ao empresário Alex Parente, apontado como chefe da organização criminosa. Parente é sócio da Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda. e da Larclean Saúde Ambiental, empresas beneficiadas com informações privilegiadas em processos licitatórios. Uma das concorrências citadas no processo mostra que empresas recebiam dinheiro para não participar das licitações, favorecendo a vitória da Allpha Pavimentações. Em um dos casos, a Construtora Lumax Ltda. recebeu R$ 100 mil para se retirar de uma disputa.
A PF também destacou o uso de métodos sofisticados de lavagem de dinheiro, incluindo a criação de empresas de fachada e o uso de laranjas para ocultar o fluxo financeiro. Documentos apreendidos apontam que os envolvidos se comunicavam até durante o processo de entrega de propostas, como ocorreu em dezembro de 2023, quando Alex Parente e Francisquinho traçaram estratégias para inabilitar concorrentes em uma licitação.
Em Itapetinga, a operação gerou novos desdobramentos políticos. A prisão do secretário de Governo, Orlando Ribeiro, aprofundou a crise entre o prefeito Rodrigo Hagge (MDB) e seu sobrinho e sucessor eleito, Eduardo Hagge (MDB). Rodrigo, que planeja disputar uma vaga como deputado estadual, mantém aliança com ACM Neto (União), enquanto Eduardo já indicou que pretende se aproximar do governo estadual petista de Jerônimo Rodrigues. A prisão de Orlando, de 82 anos, acendeu temores de que ele opte por uma delação premiada, dada sua posição estratégica e conhecimento detalhado da gestão municipal.
A Polícia Federal destacou em comunicado oficial que a operação resultou na emissão de 17 mandados de prisão temporária e 43 de busca e apreensão em cinco estados: Bahia, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Os alvos incluem políticos, empresários e servidores públicos ligados ao DNOCS. A PF também apreendeu veículos de luxo, imóveis de alto padrão, aeronaves e cerca de R$ 162 milhões em bens e valores relacionados ao esquema.
Com as investigações em andamento, a expectativa é de que novas delações premiadas revelem mais detalhes e ampliem o alcance da operação. Como frequentemente ocorre em esquemas dessa magnitude, as delações podem desencadear uma reação em cadeia, atingindo agentes políticos de maior influência.
O impacto da Overclean promete ser devastador, tanto para os envolvidos diretamente quanto para os bastidores da política baiana.