
Uma operação do Ministério Público do Trabalho (MPT), realizada em conjunto com órgãos federais, resgatou 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão na fábrica Build Your Dreams (BYD), em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. As inspeções, iniciadas em 11 de novembro, revelaram jornadas exaustivas de 10 horas por dia, alojamentos precários e falta de direitos trabalhistas básicos.
Entre os abusos, destacam-se cozinhas insalubres, alimentos armazenados em materiais de construção e apenas um banheiro para mais de 30 pessoas.
De acordo com o subprocurador do MPT, Fábio Leal, os trabalhadores estavam submetidos a uma situação de completa degradação física e mental. “Era um cenário indigno, sem descanso adequado e em alojamentos sem a mínima condição de higiene”, afirmou.
A montadora chinesa e a construtora contratada, Jinjiang Group, foram notificadas extrajudicialmente, e as obras da fábrica foram suspensas.
As investigações começaram após denúncias anônimas de maus-tratos, recebidas em setembro. Relatos indicavam agressões físicas, como chutes e pontapés, além de sanitários sujos e alojamentos aglomerados, sem qualquer separação por gênero. Apesar de a BYD afirmar que as agressões foram cometidas por empresas terceirizadas e garantir a demissão dos envolvidos, o MPT ainda não confirmou esses episódios nas inspeções realizadas até agora.
Em nota, a BYD repudiou as denúncias e destacou o compromisso com o respeito às leis brasileiras. O vice-presidente sênior da empresa, Alexandre Baldy, assegurou que, caso as infrações fossem comprovadas, os responsáveis seriam punidos, incluindo o cancelamento de vistos e repatriação à China.
Apesar da promessa de medidas rigorosas, a montadora ainda não se pronunciou sobre as notificações emitidas após o resgate dos trabalhadores.
Com a suspensão das obras, o MPT determinou que todos os trabalhadores continuem recebendo seus salários. A operação segue em andamento para garantir que a construção da fábrica só seja retomada após a regularização completa das condições trabalhistas, respeitando a dignidade dos trabalhadores e as normas brasileiras.