“Conceição Evaristo é a nossa imortal e a Academia Brasileira de Letras (ABL) perdeu a chance de fazer história ao não suprir a ausência da representatividade de nosso povo em suas cadeiras”. A declaração é da vereadora de Salvador e líder da oposição na Câmara, Marta Rodrigues (PT), que criticou a ausência de negros na ABL. “A falta de escuta da academia ao clamor popular pela eleição da escritora mineira é mais um traço das dinâmicas racistas da sociedade brasileira”, afirmou. Autora de seis livros publicados ao longo da carreira e vencedora do Jabuti, o mais tradicional prêmio da literatura brasileira, Conceição nasceu numa favela em Belo Horizonte, foi empregada doméstica e se formou em Letras, tornando-se mestra e doutora, uma intelectual negra reconhecida nacional e internacionalmente, como destaca a vereadora.
Marta lembra ainda que, antes de Conceição, o escritor negro Lima Barreto já havia sido preterido. “É a primeira vez que a ABL tem uma disputa legitimada pelos movimentos negros e feministas. Conceição Evaristo representa nas letras, a “escrevivência”, um método linguístico e narrativo da sua autoria, que incorpora as histórias e vivências da maior parte da população. Por isso, o pleito pela sétima cadeira é tão popular”, disse a vereadora.
Marta afirma, ainda, que a formação da ABL, majoritariamente branca e masculina, pode ser vista em quase todas as instituições brasileiras. “Não temos uma sociedade com instituições que nos representem como mulheres negras, homens negros, que formamos a maioria desse país. A ABL, assim como todas as instituições, um dia vai ter que sanar essa dívida com o nosso povo”, pontuou.