
O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer, preso no último sábado, 3, seria transferido na segunda (5), para a ala federal do presídio de Papuda. Porém, a Polícia Federal (PF) confirmou que a transferência ocorrerá somente na quarta (7). O depoimento do ex-deputado está marcado para o mesmo dia, entre 16 e 17 horas, na sede da PF, o que aumenta a pressão sobre o governo Temer que teve revelações de Loures quanto a possível propina paga em dinheiro ao presidente.
A demora para o interrogatório, no entanto, beneficia o próprio presidente Michel Temer, investigado também pela mesma operação. Os assessores do presidente não querem que os relatos influenciem sobre os votos dos ministros no julgamento da chapa Dilma-Temer, que terá início nesta terça e, se não houver pedido de vista, deve terminar na quinta.
O adiamento foi um acordo entre Loures e o delegado responsável pelo inquérito aberto contra ele e Temer. Os pemedebistas são investigados por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa. Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), líder do PT na Câmara, a prisão do ex-deputado deixa o governo “por um fio”. “Qualquer coisa que Loures fale vai levar à queda do governo”, declara Zarattini à imprensa nesta segunda.
Há duas semanas, um emissário de Loures se reuniu com procuradores do Lava-Jato, em Curitiba, para estudar a possibilidade do ex-deputado fazer um acordo de delação, o que colocaria em cheque toda a sua relação de 20 anos com Michel Temer. A Procuradoria-Geral da República (PGR) respondeu que, para Loures obter benefícios, teria que delatar “toda organização criminosa”, além do fato dele ter corrido quando flagrado com R$ 500 mil, recebido em dinheiro em um restaurante em São Paulo. Na semana seguinte, o advogado Cezar Bitencourt foi chamado para a defesa do ex-assessor, e disse que, inicialmente é contra o acordo, mas não descartaria a medida.
O operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro também já mostrou interesse em fazer acordo com a PGR, o que poderia potencializar as investigações contra Loures e Temer.
O Ministério Público Federal (MPF) suspeita do envolvimento de Funaro com Temer e com o ex-deputado Eduardo Cunha. Joesley Batista afirmou, em conversa privada com o presidente, estar pagando com regularidade um valor ilícito a Cunha e Funaro, para que os dois não fizessem acordo de delação, como uma mesada pelo silêncio de ambos, que continuam presos.
Nesta segunda, assessores ligados à parlamentares do PMDB usaram o discurso de que o Ministério Público procura “constranger o presidente”, e que o áudio periciado irá “provar a verdade”.
“Temos indicativos de que virão movimentos e iniciativas de Janot às vésperas do julgamento do TSE na tentativa de constranger o tribunal a condenar o presidente”, afirma o advogado Gustavo Guedes, que defende temer na ação do TSE. “Nos preocupa muito o procurador-geral da República se valer de toda a estrutura que tem para tentar constranger um tribunal superior”, completa ao referir-se a Rodrigo Janot.
Fonte: A TARDE