
A ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, disse ontem que os nomes citados em delações da Odebrecht não lhe causaram Surpresas.
Segundo ela, após passar pela política, chegou à conclusão que é praticamente impossível bancar uma campanha sem haver corrupção. “Os fatos não surpreenderam ninguém, principalmente eu que estive na política. Compreendi que pelas regras do jogo é impossível fazer política sem corrupção. As campanhas são milionárias e o mercado já está viciado. As empresas financiavam as campanhas. […] Tanto é que quase todo político é rico”, pontua, em entrevista à rádio Metrópole.
Na avaliação de Eliana, existe uma forte hipocrisia no meio político e na sociedade, ressaltando que os esquemas de corrupção tiveram aval de parte do Poder Judiciário. “Os ‘Sérgios Moros’ da vida surgem de mentirinha. […] As empresas foram sendo comparadas pela Odebrecht, e isso foi passando pelo Judiciário de uma forma incólume, sem ninguém ter visto”, disse. “Será que nada disso passou pelo Judiciário, ninguém foi capaz de barrar uma licitação? Baseada nisso, digo que o Judiciário teve uma participação. Depois da Constituição de 88, não se pode fazer nada sem o aval do Judiciário. Muita coisa virá à tona, porque quase tudo passou pelo Judiciário. Nesse momento, não estamos questionando partidos políticos, porque todos fizeram aquilo que não poderia ser feito”, completa.
Ela garantiu também que todas as doações da Odebrecht foram declaradas à Justiça. “Nem acho que houve delação no meu nome. Minha campanha foi muito pequena e todo mundo sabia que eu não ganharia. Mas eles pegaram a prestação de contas e lá tinha que recebi doação da Odebrecht. Como eles contribuíam a todos, contribuíram para a minha campanha. Muito do dinheiro era doado ao partido e repassado”, pontua.
Ao jornal Folha de S. Paulo, Eliana disse que, por outro lado, a Operação Lava Jato corre o risco de cometer injustiças. “Todas as vezes que você abre para o público essas delações, algumas injustiças surgem. Essas injustiças pessoais, que podem acontecer ocasionalmente, não são capazes de justificar manter em sigilo toda essa plêiade de pessoas que cometeram irregularidades. Mesmo havendo algumas injustiças, a abertura do sigilo é a melhor forma de chegarmos à verdade dos fatos”, acredita.
Nomes de tucanos na lista causaram surpresa
Ainda de acordo com Eliana, foi uma surpresa que José Serra e Aloysio Nunes, ambos do PSDB, tenham aparecido nas delações da Odebrecht. Além disso, ela apontou que o Judiciário irá se renovar quando se ver envolvido em atos ilícitos. “Nós temos a legislação mais moderna para punir a corrupção.
O Brasil foi obrigado a aprovar algumas leis por exigência internacional em razão do combate ao terrorismo. Essas leis foram aprovadas pelo Congresso Nacional, tão apodrecido, porque eles entendiam que elas não iam ‘pegar’ aqueles que têm bons advogados, que têm foro especial.
As medidas foram também aprovadas porque precisavam dar uma satisfação à sociedade depois das manifestações populares em junho de 2013″, pondera, ao acrescentar que o STF precisará se precaver para não se perder na grande quantidade de processos. “Eles vão ter que mudar para haver a aceleração. Acho um absurdo o ministro Edson Fachin, com esse trabalho imenso nessas investigações da Lava Jato, ter a distribuição de processos igual à de todos os demais ministros. Isso precisa mudar”, conclui.
Fonte: Tribuna da Bahia