
Ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, João dos Reis Santana Filho é pré-candidato ao governo da Bahia pelo MDB. Nascido em Nazaré das Farinhas, com família em Irará, militou por muitos anos na política de Jequié e já concorreu à prefeitura. O candidato é formado em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia. No Ministério da Integração Nacional ocupou o cargo de secretário de Infraestrutura Hídrica, que assumiu em maio de 2007, partindo depois para o comando da pasta, após a saída de Geddel Vieira Lima do cargo. Além de pré-candidato ao governo, Santana foi eleito presidente estadual da legenda, assumindo o lugar do deputado estadual Pedro Tavares, que deixou o partido. Em uma conversa franca, o candidato revela os motivos de ter se candidatado ao Palácio de Ondina, o posicionamento em relação à gestão petista e as pretensões para o cargo que será disputado em outubro.
Confira à integra da entrevista concedida ao A TARDE que o TV Servidor repercute a seguir:
Por que resolveu se candidatar ao governo do estado?
Em princípio, minha candidatura ao cargo não era algo planejado, por conta do meu caráter. Do ponto de vista pessoal, sempre fui uma pessoa comedida. Após o partido fazer uma análise da atual situação política na Bahia, chegou-se à conclusão de que eu tinha todos os elementos necessários para ser um forte candidato ao governo da Bahia. Esta escolha se deu através da minha trajetória, cheguei a ser ministro com louvor e durante a minha gestão no ministério entreguei diversas obras concluídas, cerca de três mil.
Como pretende encarar os questionamentos a respeito das “malas” de Geddel Vieira Lima?
Sou amigo de Geddel há 35 anos, e ao longo desses anos jamais o ex-ministro me propôs produzir ou realizar qualquer atividade ilícita. Sendo assim, não posso falar em nenhum momento sobre o caráter de Geddel e me recuso a tomar parte neste episódio, por não ter condições de avaliar. No que diz respeito à minha índole, sou do MDB há 50 anos e Geddel tem 30 anos no partido, nos conhecemos há muito tempo e não tenho nada a apontar com relação a este assunto, pois a questão fica entre o ex-ministro e a Justiça.
A debandada de cinco deputados da legenda na janela partidária enfraquece o MDB?
O MDB é o partido mais capilarizado da Bahia, tendo milhares de militantes, e durante todo esse processo ninguém havia saído do partido, somente agora neste processo eleitoral, induzidos pelo “canto da sereia”, cinco deputados deixaram o MDB em uma hora que julgo “infeliz”, pois, sem querer, eles fizeram um pré-julgamento em relação a Geddel, caso que nem a Justiça julgou ainda. Entretanto, nosso partido tem estrutura para continuar, tendo em vista que somos o mais completo da Bahia no quesito estrutura. Por mais diminuto que o MDB seja, continuamos em todos os cantos do País. É notável que os candidatos a deputado são importantes para uma boa campanha política, em contrapartida, se o candidato ao governo tiver uma boa performance, falar a língua que o povo quer ouvir, além de apresentar o plano de trabalho dele à população, não se torna tão necessário que se tenha esse total apoio para a eleição.
Qual a sua opinião a respeito da união das oposições após a desistência do prefeito ACM Neto ao governo?
Eu vejo a união das oposições como uma fórmula capaz de fazer com que a oposição lute contra a situação com mais capacidade de combate. O MDB, por exemplo, está à disposição de ser cabeça de chapa da oposição, mas o fundamento da verdade é a prática. Dentro de três meses saberemos quem é o escolhido, quem poderá ser o denominador comum no fechamento desta questão, devido a atual situação política. O mundo político atualmente está conturbado e tenho bastante convicção de que daqui até o dia da oficialização da candidatura muita coisa acontecerá, principalmente com relação à oposição.
Com esta declaração, o senhor admite que ainda tem a possibilidade de o MDB fazer uma nova composição adiante?
Sim, o MDB aceita uma nova composição desde que seja o vértice, inicialmente. Que para ele se obtenha a chapa majoritária, que o governador seja do MDB. Mas é muito salutar e é bom que aconteça por esses três primeiros meses, na época das convenções que homologarão as candidaturas, que nos exercitemos, para que a Bahia seja testemunha de uma provável união das oposições. E o MDB se propõe a ser coadjuvante e protagonista desta ação.
Qual a sua avaliação a respeito da gestão de Rui Costa?
Eu acho muito simples avaliar o governo de Rui Costa, pois conheço profundamente a Bahia, sei o que ele está fazendo e sei o que ele está propagando que está fazendo pelo Estado. Se você andar pela Bahia inteira poderá acompanhar que a cada 10 ordens de serviço divulgadas pelo governo, não sei se duas estão sendo cumpridas. Considero um governo modesto, mas que peca em todos os fundamentos, como nas áreas da Segurança e Saúde, onde sempre ouvimos falar que pessoas morrem na sem regulação.
O que você faria de diferente na atual gestão?
Uma das propostas que trago para a cidade é que meu governo sempre trará para divulgação pública propostas que sejam capazes de serem realizadas. Para a área de Segurança tenho uma outra proposta, que se resume na resolução dos problemas com cinco itens: armas e equipamentos; melhoria salarial e qualitativa no trabalho dos soldados ou da polícia; grande e profunda política de estratégia na área de investigação, e, acima de tudo, melhoria da conduta humana, seja da polícia para com o policiado, como da polícia com a sociedade. O que para mim é fundamental que um candidato tenha é saber identificar os problemas em uma determinada região e dizer ao seu povo o que o Estado pode fazer para melhorar a situação, dentro das condições possíveis. Em realidade, nós só apresentaremos propostas que o governo possa resolver.
Quem o senhor vê como líder após a desistência do prefeito ACM Neto à candidatura ao governo do estado?
Ninguém. O prefeito ACM Neto conseguiu se situar no trono e polarizou a campanha junto com o governador. Durante a oposição é que poderemos ver quem assumirá este papel, porque todos os caminhos levavam até ele. Estabeleço que o prefeito fez um grande mal à política das oposições ao governo do estado, depois de ter polarizado com o governador durante meses. Até surgir alguém com o mesmo potencial será difícil, afinal o campo político é uma universidade, não um local onde qualquer um possa chegar e se candidatar.
É verdade que a sua candidatura é para viabilizar a mantenedora de Lúcio Vieira Lima?
O MDB terá diversos candidatos a deputado federal, seria inadmissível afirmar que o partido todo só existirá para favorecer a candidatura de Lúcio Vieira Lima, pois seria algo como admitir que todas as pessoas presentes no partido são idiotas, e que ele só existe em função do deputado. Pelo contrário, nós estamos candidatos para defender o MDB como um todo e fazer com que os nossos candidatos assumam os cargos, sendo um conjunto. O partido gosta do deputado Lúcio Vieira Lima, que foi o mais votado nas últimas eleições, com muitas realizações na Bahia, sendo um concorrente a renovar a investidura na Câmara Federal. O partido existe para se fortalecer, se reagrupar e se reconstituir com todos os candidatos, não somente a favor de um.
A imagem de Geddel e Lúcio dificulta a aproximação do eleitorado baiano?
Geddel encontra-se preso hoje e vai responder à Justiça pelos problemas dele. Já o Lúcio é deputado em exercício. O que me deixa impressionado é que as pessoas possam fazer a associação de um partido grande, como MDB, à existência por conta de duas pessoas. Possa ser que alguns digam que não votarão em mim por fazer parte do partido do Geddel e do Lúcio, porém eles têm que entender que as pessoas são diferentes. Não mereço ser julgado pelos feitos das outras pessoas, mas, sim, pelo que fiz e o que farei pela população.
Fonte: A TARDE On Line