
“Não tenho por que lamentar a morte de quem defendia bandido” versus “Marielle morreu porque era negra, mulher e contra a intervenção militar no Rio”. Esta é apenas uma das facetas da batalha ideológica provocada nas redes sociais brasileiras pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL. Só no Twitter, segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV Dapp), o caso teve 567,1 mil menções em 19 horas – entre as 22h do dia 14 de março, minutos depois do crime, e as 17h do dia 15 de março. Na noite de quarta, foram registrados 594 tuítes por minuto sobre o tema.
“É um dos maiores picos do ano sobre eventos relacionados à segurança, quase tão grande quanto as menções à intervenção federal no Rio, quando ela foi anunciada”, disse à BBC Brasil a pesquisadora da FGV Ana Luisa Azevedo, uma das responsáveis pelo levantamento. Segundo a pesquisa, as palavras “negra”, “mulher”, “execução” e “executada” estão entre as dez mais usadas nas mensagens sobre a vereadora. Elas ajudariam a expressar as interpretações majoritárias sobre o assassinato: a de que a morte de Marielle Franco seria um símbolo da perseguição a líderes de minorias por um estado autoritário e a noção de que minorias estão sujeitas a violência por agentes de segurança, especialmente se forem críticas às corporações policiais. As investigações não permitem endossar até o momento tais opiniões. “A execução da Marielle é uma amostra clara de que a intervenção começou de fato contra a justiça, contra a democracia. Assim como no passado”, disse uma participante do Twitter.
Por outro lado, houve quem considerasse que a morte da vereadora seria uma prova de que suas críticas à violência policial seriam uam defesa dos criminosos que a teriam vitimado. Tampouco é possível afirmar isso à luz das investifgações por enquanto. “PSOL defende tanto bandido e agora quer justiça?”, questionou um usuário do microblog. Em resposta a isso, muitos posts também expressavam frustração e decepção com comentários que comemoravam – ou se recusavam a lamentar – a morte da vereadora. Na reclamação, valia inclusive compartilhar conversas privadas no WhatsApp, como fez uma mulher. “Não acredito que alguém tão próxima de mim pense assim”, desabafou.
Ana Luisa Azevedo, no entanto, afirma que comentários críticos a Marielle representavam apenas 7% do total de menções ao caso nos últimos dias, de acordo com o levantamento da FGV Dapp. Já o número de menções de luto e trajetória de Marielle respondeu por 88% do debate.
Fonte: BBC Brasil