
Comida e bebida escassa, ausência de banheiro, pouco espaço para locomoção e um ritmo intenso de trabalho são alguns dos desafios enfrentados pelos velejadores que singram dia e noite em alto-mar durante uma regata. Para obter o máximo possível de rendimento e dinâmica a bordo de uma embarcação, são exigidos dos atletas preparos físico e mental. O suíço Alain Roura, 24 anos, que alcançou a nona colocação na classe Imoca da Transat Jacques Vabre, após 16 dias de percurso, conta como foi a rotina dele e de seu companheiro de dupla, o francês Frédéric Denis, 33, durante o trajeto entre Le Havre, na França, à Baía de Todos-os-Santos.
Um dos detalhes que pouca gente sabe diz respeito à armazenagem de comida no barco, que deve ser em quantidade limitada e restrita a alimentos desidratados. Tudo isso para conservar os produtos, que não passam por nenhum processo de refrigeração, e para não introduzir mais peso à embarcação – fator que afeta diretamente o desempenho e a velocidade do veículo. Durante a navegação na Jacques Vabre, Frédéric e Alain se “fartaram” de um cardápio movido água, refrigerante, salame, queijo, laranja e maçã.
“Como o nosso barco é muito leve e é de desempenho, não podemos carregar muita coisa pesada. Esse tipo de alimento (desidratado) permite estocarmos em grande quantidade sem que isso gere muito peso. Além disso, a embarcação é equipada com dessalinizador, onde a gente transforma água do mar em água doce. Usamos essa água tratada para fazer café e para misturar com a comida”, explica Alain.
O barco da dupla franco-suiço, o La Fabrique, é surpreendente a começar pelo peso: oito toneladas. O veículo tem mais de 20 metros de comprimento, seis metros de largura e 27 metros de altura, requisitos que atendem aos critérios da competição na classe Imoca. Por outro lado, nenhum barco que compete nessa modalidade é igual ao outro. Cada velejador adapta a embarcação conforme bem desejar.
Se por fora o barco é grande, rápido e seguro, por dentro a situação muda. O compartimento interno é escuro e pequeno, geralmente acomoda comida, água, uma série de equipamentos e materiais da equipe. “Meu antigo barco só tinha 4 metros quadrados e era todo escuro dentro. Era impossível viver a bordo dele. Esse (La Fabrique) é um pouquinho maior: tem 6 metros quadrados e é branco por dentro, o que já ajuda bastante”, destaca Alain.
Na cabine do veículo, os velejadores contam com um computador, onde através dele a dupla recebe informações de navegabilidade. Há ainda a parte da cozinha, composta por um fogão de uma boca, e um pufe para as horas de sono, que devem ser revezadas entre os atletas. O La Fabrique não possui banheiro, logo, todas as necessidades são feitas em um recipiente com água ou em saco biodegradável. Os resíduos são lançados no mar.
Preparação – Durante a preparação para a Transat Jacques Vabre, Alain e Frédéric chegaram a dormir três horas por dia. “Essa foi nossa forma particular de treinamento. No entanto, como a gente está num barco em dupla, esse tipo de competição nos permite dormir até oito horas no dia, e tirar o máximo de proveito do barco. Mas nas últimas 24 horas antes da chegada, praticamente não dormimos, pois estávamos dando o máximo para chegar”, disse Alain.

O suíço não esconde o descontentamento por ter chegado em nono na Imoca da Jacques Vabre deste ano. Ele culpa as duras condições climáticas nos primeiros dias de travessia e a pouca intimidade com o La Fabrique, que foi lançado há apenas quatro meses. “É difícil velejar nesse tipo de barco. As velas são pesadas, grandes, daí a gente precisa ter um ritmo a bordo”.
A vida de Alain Roura no meio náutico começou quando ele era uma criança de apenas 2 anos. Junto à família, o suíço chegou a morar num barco e realizou uma viagem de volta ao mundo, que durou pouco mais de uma década. O atleta pisou pela primeira em Salvador há 14 anos e confessou ter um carinho especial pela capital baiana. “Salvador é uma cidade diferente, é mágica. Ainda não tive tempo de rever a cidade, mas me lembro do Centro Histórico, o Porto da Barra, o Elevador Lacerda. Tudo ainda está aqui. Além disso, o que se vê aqui é imagem do Brasil, a capoeira, a dança. A caipirinha e o churrasco também são ótimos”, elogia aos risos.
Vila da Regata – O cantor Gerônimo encerra nesta sexta-feira (24) a programação musical da Vila da Regata, situada o Terminal Turístico Náutico, no Comércio. Desde quando foi implantada, no último dia 12, aproximadamente 10 mil pessoas já visitaram o local. A programação cultural do espaço é coordenada pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), para que soteropolitanos e turistas possam acompanhar a chegada das embarcações que estão participando da regata Transat Jacques Vabre. Diversos shows já agitaram o público nos últimos dias, como os cantores Márcia Short e Magary Lord, Carla Cristina e as bandas Funk Machine e Filhos de Jorge, entre outros artistas. A Vila da Regata funcionará hoje de 17h às 22h.

Competição – Com partida ocorrida no dia 5 de novembro, em Le Havre, na França, a Transat Jacques Vabre envolve 38 embarcações e um percurso de 4.350 milhas náuticas – equivalente a 8.056 quilômetros terrestres. Participam desta edição velejadores oriundos da França, Japão, Reino Unido, Espanha, Suíça, Alemanha, Brasil, Angola, Itália e Omã.
As disputas envolvem as categorias Class40, Multi50, Imoca e Ultime. Dentre os velejadores está o baiano Leonardo Chicourel que, ao lado do angolano José Guilherme Caldas, está a bordo do Mussulo 40 Team Angola Cables, na Class40. A regata revive a antiga “Rota do Café”, quando navegadores de diversas partes do planeta deixavam o porto europeu rumo a algum país cafeicultor das Américas.
Fonte: Secom/PMS